Usando a técnica de “pensar-partilhar-apresentar”, responda às seguintes questões:
A partir da reflexão feita no exercício anterior, você pode ter percebido que a escola e, particularmente, os professores, não promovem iguais oportunidades de integração das raparigas em relação aos rapazes. De facto, a forma de organização dos alunos (ex.: a composição equilibrada dos grupos e preferências na atribuição de tarefas escolares na base de género) na sala de aulas, é muito determinante para a participação igual de raparigas e rapazes na aula.
O professor deve ter a consciência de que, desde o nascimento, a pessoa, sofre imposições e estereótipos, principalmente de género. O tratamento diferenciado entre rapazes e raparigas, que começa com as cores dos enxovais, nos brinquedos, nos filmes, nos brincos, etc., tem um efeito poderoso na criança, pois é por meio dele que ela percebe o que deve fazer e como agir para se conformar e encaixar-se no género masculino ou no feminino.
No seio familiar, é comum notar que, enquanto os meninos brincam de carrinho, com jogos de aventura e construção, as meninas são introduzidas aos cuidados da casa, com panelas e utensílios domésticos, rosas e bonecas magras e elegantes.
A desigualdade de género ganha mais força quando, na escola, as crianças são divididas em “fila dos rapazes e fila das raparigas”; quando a caligrafia, a delicadeza e o capricho das meninas são sempre enaltecidos e elogiados, enquanto os rapazes são considerados como os ‘super-heróis’; quando as raparigas são sempre chamadas para organizar e limpar a sala e os rapazes para resolver os cálculos matemáticos. Expressões, tais como, “senta-te como menina”, dirigidas às meninas e “menino não chora”, para os meninos, parecem coisas mínimas, mas acontecem em todo o lugar, a todo o momento.
Outros estereótipos muito comuns no contexto sócio-cultural de Moçambique são: numa sala de aulas com poucas carteiras os rapazes sentam-se nas poucas que existem e as meninas no chão, e não só, em algumas famílias os assentos mais confortáveis são exclusivos para o chefe de família. Ainda, em certos casos os homens são os primeiros a se servirem e há partes do alimento exclusivas para o homem dependendo do seu papel na família. Outrossim, grande parte dos ritos de iniciação e passagem em Moçambique veiculam um ensinamento no qual a figura da mulher é dependente do homem e, não é reservado à mulher direito algum que não sejam os deveres.
A equidade de género ainda é um grande tabú, principalmente nas escolas e na educação das crianças, em geral. Ainda não é assunto fácil a ser debatido.
A seguir são apresentados cinco princípios a serem considerados pelo professor para educar as crianças com sensibilidade ao género, nomeadamente:
O professor não poderá orientar uma aprendizagem autónoma e livre, se ele próprio não for coerente com os procedimentos que promovam aautonomia e a liberdade. As crianças se espelham muito nas atitudes que vêem à sua volta. Elas observam e reproduzem práticas e discursos do adulto.
É preciso parar com a “princesação” das meninas e com a imposição de uma “feminilidade natural”. O discurso de “isso não é coisa de menina”; “senta como menina ”; “menina não fala essas coisas”; “azul é cor de menino”, piora os preconceitos baseados no género. É necessário libertar as meninas dos estereótipos de género, mudando a forma como o professor se dirige a elas.
Os meninos também sofrem com estereótipos de género, tais como: “isso não é brincadeira de menino”; “o homem não chora”; “rosa é cor de menina”; “você tem que ser forte, já é um homem”; “boneca é coisa de menina” e, enfim, essas e outras coisas que se ouvem o tempo todo também afectam a forma como os meninos constrõem a sua identidade.
O professor pode trocar a divisão por género nos casos “meninos desse lado e meninas daquele” por “quem nasceu no mês de janeiro deste lado”, ou “quem tem o nome que começa com a letra B”, daquele lado.
Muitos professores podem não abordar a temática sexualidade e género na sala de aulas por não dominaremo assunto.Ninguém precisa de ser especialista no assunto. O importante é não reprimir os impulsos e a vontade das crianças; o que elas devem ou não fazer e como brincar.
É importante que o professor, como educador, crie um ambiente próprio para a interacção, que valorize as diferenças, sem discriminação e estereótipos. O professor deve estimular o brincar livre e a imaginação, promovendo jogos de estratégia e criatividade.
Lembre-se que não existe brinquedo para menina e para menino - os brinquedos e brincadeiras são para crianças.
Os livros são fonte de variadas histórias para crianças. Os livros têm títulos que desconstrõem núcleos familiares tradicionais, estereótipos de princesas e contos de fada; os que trazem a homossexualidade e as diferentes formas de se relacionar como temática central; os que falam de mulheres e seus grandes feitos na história e muitos outros.
A sociedade tende a educar as meninas para serem perfeitas em tudo o que fazem, desprezando a sua coragem, a criatividade e a sua capacidade de lidar com falhas e imperfeições, o que as limita em várias actividades em que se poderiam destacar.
Ensinar com a sensibilidade ao género pressupõe encarar todas as raparigas e todos os rapazes com o respeito às suas diferenças, o que é indispensável para o desenvolvimento da sua personalidade e do seu potencial.
O professor deve ser o exemplo de um comportamento que promove autonomia e liberdade, pois as crianças se espelham nas atitudes que vêem à sua volta. Para tal, o professor não precisa de ser especialista de género, mas, sim, estimular o brincar livre e a imaginação, promovendo jogos de estratégias e criatividade e, ainda, experiências de vida, em que os rapazes e as raparigas se sentem valorizados, independentemente do género.