Quando pretendemos comunicar algo, oralmente ou por escrito, recorremos com frequência ao verbo. A razão disso reside no facto de o verbo ser a palavra que comummente existe em todas as línguas humanas e que serve para fazer afirmações, relatar factos, acções, descrever estados, seres, situações, e muito mais. Eis a razão de o verbo ser, geralmente, conhecido como a palavra mais variável de uma dada língua.
Nas línguas moçambicanas de origem bantu, tipicamente aglutinantes, a complexa natureza da estrutura verbal faz com que, quando conjugado, o verbo possa apresentar marcas portadoras de informações sobre o sujeito, o tempo, o aspecto, a pessoa, o número, o objecto, a negação, , o reflexivo, entre outras. Na forma verbal, estas marcas, incluindo as marcas derivacionais, são agregadas à raiz, designada núcleo morfológico do verbo.
Antes de ir para as características do verbo na sua língua moçambicana, leia o pequeno texto a seguir e resolva o exercício dado.
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Texto |
Uma jovem foi escalada para fazer recenseamento numa aldeia rural. Durante o trabalho, ela enfrentou dificuldades na recolha de informações, pois falava apenas a língua portuguesa. Muito inteligente, a jovem resolveu aprender palavras e algumas frases da língua falada localmente, que lhe facilitassem obter a informação de que necessitava. Listava as palavras e as frases num caderno e sempre que fosse ao terreno, o caderno era o seu fiel companheiro. Das palavras que constavam do caderno, o destaque vai para as seguintes: Eu, pedir, filhos, andar, trabalhar, idade, comer, escrever e obrigado.
No final do seu trabalho, a jovem tinha muitas palavras e podia produzir algumas frases nessa língua. Ela decidiu aprendê-la e hoje fala-a com muita fluência.
Patel, S.A.; Tembe, F. e Majuisse, A.
Actividade 1
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Trabalho em grupo |
Formem grupos de 5 membros falantes da mesma língua bantu ou de línguas bantu mais próximas, observando a equidade de género.
Preste atenção ao que se diz a seguir!
Conforme se afirmou anteriormente, o verbo nas línguas moçambicanas apresenta características especiais. O motivo principal é a natureza da sua estrutura que é complexa e muito produtiva. Assim, quando conjugado, o verbo traz-nos muita informação, desde a da entidade sobre a qual se faz a afirmação até à descrição da acção praticada e que recai sobre essa mesma entidade.
O número 5 do exercício anterior já é uma base para perceber a estrutura do verbo na sua língua moçambicana. Ele exibe duas partes muito distintas, nomeadamente, um prefixo verbal (Cl.15) e um tema verbal. Esta estrutura desdobra-se em formas particulares para cada língua, podendo ser prefixo + raiz verbal + vogal final. Qualquer palavra que apresentar esta estrutura é sempre um verbo no infinitivo. Tomemos como exemplos as línguas a seguir:
Exemplos 1:
Xichangana: | kuyala “negar”; | kujondza “estudar/aprender” |
Ciyaawu: |
kuteleka “cozinhar” |
kulokota “apanhar” |
Emakhuwa: |
osoma “estudar” |
okothomola “tossir” |
Gitonga: |
guhimbila “andar/caminhar” |
guhodza “comer” |
Como se pode verificar nos exemplos acima, os verbos apresentam sempre um prefixo, a parte em negrito, e outra que é o tema verbal. Este, por sua vez, é constituído por uma raiz verbal e a vogal final. É importante conhecer muito bem a natureza da raiz verbal. É esta a parte mais significativa do verbo, aquela que transporta a semântica do verbo e é dela que se derivam outras palavras. Por exemplo, em Xichangana podemos ter o verbo kujondza “aprender” e dele derivarmos outro verbo como kujondzisa “fazer aprender/ensinar”. A parte destacada corresponde à raiz do verbo e é dela onde extraímos o campo semântico dos verbos kujondza e kujondzisa.
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Resumo |
A estrutura do verbo nas línguas moçambicanas é muito complexa. Quando conjugado, o verbo pode conter partículas/marcas que indicam o tempo, o aspecto, a negação, o sujeito, o objecto, o reflexivo. Esta é a principal razão por que se afirma que as línguas moçambicanas são aglutinantes.
Na aula sobre o nome nas línguas moçambicanas, apresentou-se duas categorias de nome, nomeadamente, o primitivo e o derivado. A razão destas categorias é o facto de a derivação constituir uma das formas mais produtivas para a expansão do vocabulário de uma dada língua, e as línguas bantu são o exemplo disso.
Neste grupo de línguas, o verbo pode derivar outros verbos a partir da anexação, na raiz verbal, de elementos derivacionais denominados extensões ou por meio de um processo morfológico que consiste na repetição da raiz e/ou do tema verbal, denominado reduplicação.
O verbo pode derivar, também, nomes com funções de agentivos, instrumentais, eventivos, resultativos; pode ainda derivar novas palavras com funções de ideofones e de diminutivos.
Nesta aula vamos tratar destes processos com alguma atenção. Iniciaremos com o processo de reduplicação, mas, como sempre, começaremos com uma pequena actividade.
Actividade 2
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Trabalho aos pares |
Junte-se a um/a colega que fale a mesma língua que a sua. Procurem saber um do outro como se diz o expresso no quadro abaixo na vossa língua moçambicana.
Em Português | Na sua língua moçambicana |
---|---|
Trabalhador | |
Pessoa amada | |
Porta | |
Profecia | |
Forma de viver | |
Forma de andar | |
Passear |
Tabela 10: Exercício de aplicação sobre a derivação verbal.
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Texto |
A dificuldade não obriga a desistir
Danisa é uma menina que gosta de ler. Ela anda na 4ª classe. Nos tempos livres, a Danisa gosta de passear pela machambinha da avó, que fica junto à casa dela. Marikhela é o pai da Danisa. Ele foi trabalhador nas minas da África do Sul. Sempre que chegasse, Marikhela comprava livros de leitura para a filha.
Certo dia, voltando da escola, a Danisa tropeçou e caiu. Madalena, sua mãe, viu-a a chegar. A sua forma de andar chamou-lhe atenção. Foi logo ter com ela e viu que Danisa se aleijara no joelho. A mãe levou-a imediatamente ao hospital. Por sorte, não era grave. A Danisa não perdeu nenhum dia de aulas pelo incidente!
Patel, S.A.; Tembe, F. ; Majuisse, A.
Nota: O conteúdo deste vídeo contém o mesmo conteúdo do texto do Manual