Como já deve ter notado, os assuntos tratados nos módulos estão interligados de forma a estabelecer-se um continuum entre si. O estudo do nome surge na sequência das temáticas anteriores e visa, fundamentalmente, explorar o funcionamento interno da sua língua moçambicana de trabalho. Uma vez que já conhece as regras de escrita destas línguas, aqui vai aplicar esse conhecimento na análise, leitura e escrita. Vamos, então, ver como se comporta o NOME nas línguas moçambicanas.
Formem grupos de 3 formandos e formandas. Em cinco minutos reflictam sobre as seguintes questões:
Agora vamos perceber um pouco sobre como o nome se comporta nas línguas moçambicanas. Prestemos atenção ao que se diz a seguir:
Quando ouvimos a palavra nome, temos logo a ideia de identidade. Isso é porque o nome é uma palavra atribuída a pessoas, animais, eventos, coisas e objectos, para os distinguir dos demais seres ou objectos semelhantes, atribuindo-lhes uma identidade própria. Assim, quando atribuído aos seres humanos, por exemplo, a uma criança ao nascer, esse nome denomina-se de nome próprio, apelido, nome de casa, nome tradicional, entre outras denominações.
Em Linguística, particularmente na gramática, o nome é um substantivo, isto é, uma palavra que se usa para indicar uma classe (conjunto) de coisas, pessoas, animais, um lugar, um acidente geográfico, um astro, entre outros referentes.
Tendo em conta o seu uso e forma, o nome pode ser categorizado em próprio, comum, concreto, abstracto, colectivo, simples, composto, primitivo e derivado. Nas aulas subsequentes, trataremos, de forma mais detalhada, a natureza do nome, com particular atenção para o primitivo e o derivado nas línguas moçambicanas.
Como se referiu anteriormente, o nome/substantivo pode ser classificado usando-se vários critérios e daí surgir a sua categorização. Um dos principais critérios para a classificação do nome é a sua estrutura. Nas línguas moçambicanas e noutras do mundo, o nome varia em classe, género e número. Nas línguas moçambicanas, o nome chama atenção pela forma como se organiza de acordo com os prefixos que indicam, tanto o número gramatical, como o género, ao contrário da oposição feminino e masculino ou neutro, dos quais estamos habituados na língua portuguesa. Aliás. Uma das características principais que vimos é que as línguas moçambicanas são, por excelência, prefixais. Afinal, o que isso significa? Vamos fazer o exercício que se segue:
Actividade 1
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Trabalho independente |
1. Atente ao quadro seguinte e traduza as palavras dadas para o singular e para o plural na sua língua moçambicana.
Em Português | Na sua língua moçambicana | |
---|---|---|
Singular | Plural | |
Professora | ||
Aluno | ||
Livro | ||
Escola | ||
Galinha | ||
Vento |
Tabela 8: Vocabulário para exercício de indução.
Com o exercício acima, verificou que o nome na sua língua moçambicana apresenta duas partes muito bem destacadas e que ocupam lugares distintos e estáveis. Essas partes têm características específicas, sendo que a primeira, denominada por prefixo que, geralmente, mostra a distinção entre o singular e o plural, é variável, ao passo que a segunda, designada tema, é constante, excepto em situações em que os segmentos do prefixo ocasionam alterações morfofonológicas. Veja-se os exemplos seguintes:
Exemplos 1:
Emakhuwa: | kharumu vs. akharumu | “leão vs. leões” |
mwalapwa vs. alapwa cf.[mu-alapua] | “cão vs. cães” | |
Cinyungwe: |
mwezi cf.[mu-ezi] |
“lua/mês” |
Citshwa: |
cimanga vs. zvimanga |
“gato vs. gatos” |
Resumidamente, o nome nas línguas Bantu é constituído por um prefixo, que pode estar presente ou não e que é váriavel (singular vs. plural), e um tema, que é invariável.
Na aula anterior viu que o nome apresenta duas partes, nomeadamente o prefixo variável em função da classe e o tema nominal, geralmente, invariável. Esta composição é de extrema importância para a conceptualização do que é uma classe nominal.
Diz-se que duas ou mais palavras pertencem à mesma classe nominal quando estas exibem o mesmo prefixo e/ou o mesmo padrão de concordância. Veja-se os exemplos a seguir:
Exemplos 2:
Ciyaawu: | Cipula ca muumbele cila cijaasiice. | “Aquela faca que me deste perdeu-se.” |
cigaayo ca cikulungwa | “moagem grande” | |
Cithswa: |
Mugondzisi avhumele muholo. |
“O professor não teve seu salário.” |
Josiyani avitanilwe hi kokwani. |
“O Jossias foi chamado pela vovó.” |
Nos exemplos de Ciyaawo e Citshwa, observamos o que se disse anteriormente. Em Ciyaawo, temos nomes cipula e cigaayo, que exibem os mesmos prefixos, e, por conseguinte, o mesmo padrão de concordância. Em contraste, nos exemplos em Citshwa, o nome Josiyani não exibe nenhum prefixo como acontece com mugondzisi, embora os mesmos nomes pertençam à mesma classe. Com efeito, ambos desencadeiam o mesmo padrão de concordância avhumele e avitanilwe, cujo morfema de concordância é a-, respectivamente.
Actividade 2
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Trabalho de grupo |
Nas línguas moçambicanas, fala-se de género, não na mesma perspectiva de género (masculino/feminino) usado na descrição morfológica do Português.
No caso das línguas moçambicanas, o género é a associação regular de nomes em pares que opõem o singular do plural (exemplo, Gitonga “muhevbudzi/vahevbudzi” “professor/a, professores/as)”; Além desta combinação, podemos encontrar géneros de uma classe, em que não se verifica a oposição entre o singular e o plural (exemplo, Ciyaawo: njete “sal”). Há ainda géneros tripartidos, em que, para além da oposição singular/plural há também o colectivo (por exemplo, Xirhonga: “nsokoti” “formiga”; “tinsokoti” “formigas”; vusokoti “formigueiro/colónia)”.
No que concerne à organização lexical, estudos indicam que a organização das palavras em classes tem, historicamente, uma base semântica, uma vez que (i) em muitos casos ainda persiste a ocorrência de nomes pertencentes ao mesmo grupo semântico e (ii) existem também outras classes onde há predominância de nomes que, facilmente, podem ser agrupados em conjuntos mais gerais. Porém, independentemente desta realidade, é quase impossível encontrar uma classe nominal que seja constituída apenas e, exclusivamente, por nomes da mesma classe semântica.
Por exemplo, em Emakhuwa, mwalapwa /alapwa “cão /cães” encontram-se nas classes 1 e 2, respectivamente, predominantemente, referentes ao ser humano.
A seguir, apresenta-se uma tabela ilustrativa de prefixos e classes nominais das línguas moçambicanas.
Classes nominais | Prefixos do Proto-Bantu | Alomorfes dos prefixos do Proto-Bantu nas línguas bantu de Moçambique | Categorias semânticas predominantes |
---|---|---|---|
1 2 |
*mu- *ba- |
mu-, mwa-, n’-, n’wa-, m’-, ø- va-, a- |
Nomes que se referem a seres humanos, basicamente |
3 4 |
*mu- *mį- |
mu-, n’-, ø- mi- |
Nomes que se referem a plantas, predominantemente |
5 6 |
*į *ma- |
li-, lu-, ni-, ri-, di-, ø- ma-, ø- |
Nomes que se referem a animais e frutas, basicamente, e a substâncias e coisas incontáveis |
7 8 |
*ki- *bį- |
xi-, ci-, e-, shi-, ki-, gi- svi-, zvi-, i-, si-, vhi-, vi-, pi-, bzi-, yi- |
Nomes que se referem a coisas, objectos, basicamente. |
9 10 |
*N- *N- |
ø-, ya-, m-, n- ø-, dza-, ti-, di-, zi- |
Nomes que se referem a alguns seres do reino animal e outros |
11 | *du- | lu-, li- | Nomes que se referem predominantemente a coisas longas |
12 13 |
*ka- *tu- |
ka- tu- |
Nomes que se referem predominantemente ao diminutivo no singular Nomes que se referem ao diminutivo no plural |
14 | *bu- | wu-, vu-, u-, o- | Nomes que se referem predominantemente a coisas abstractos, incontáveis |
15 | *ku- | ku-, gu-, o- | Formas infinitivas verbais |
16 17 18 |
*pa- *ku- *mu- |
pa-, ha-, va- ku-, gu-, o- mu- |
Locativos situacionais Locativos direccionais Locativos de interioridade |
19 | *pį- |
Tabela 9: Resumo dos prefixos e classes nominais das línguas bantu moçambicanas.
Ficha informativa
Léxico - Conjunto de palavras existentes e aceites numa dada língua, ou seja, é o vocabulário de um idioma.
Prefixo – Parte da palavra que se antepõe à base ou morfema que se coloca antes dos radicais para lhes modificar o sentido.
Alomorfes – São diferentes formas em que um morfema se apresenta, tendo em conta o contexto morfonológico em que ocorre.
Diminutivização – Processo gramatical que consiste na redução do que a palavra refere (preferencialmente substantivos) em tamanho, volume, número.
Ideofones – Palavras icónicas que, quando pronunciadas, dão ideia de dor, cor, estado, acção. São mais frequentes no grupo das línguas bantu.
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Resumo |
O nome nas línguas bantu apresenta características pouco comuns relativamente a outras línguas do mundo. Ele é constituído por duas partes distintas, nomeadamente o prefixo, a parte variável do nome, e o tema, a parte invariável.
Nestas línguas, os nomes estão organizados em classes, que são conjuntos de duas ou mais palavras que apresentam o mesmo prefixo ou que exibem o mesmo padrão de concordância. Dependendo da língua, as classes nominais variam entre 10 e 20, sendo que as classes nominais de 1 a 11 e 15 são as mais produtivas.
Actividade 3
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Trabalho em grupo: pesquisa |
Para melhor realizarem a vossa actividade, podem recorrer a documentos já escritos sobre esta temática nas línguas moçambicanas, como por exemplo, o Relatório de Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas em http://www.letras.ufmg.br/laliafro/PDF/Ngunga,%20Armindo%20Padronizacao%20ortografica%20-%203nd%20correcao.pdf ou na sua versão impresa, os Relatórios de Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas 1 e 2 na sua versão impressa; Ngunga (2014) versão impressa.
Nota: O conteúdo deste vídeo contém o mesmo conteúdo do texto do Manual