Como foi referido no Módulo II, a língua portuguesa é, para a maioria da população moçambicana, uma língua segunda, observando-se dois cenários: o do meio rural e o do meio urbano. No meio rural, o Português é praticamente uma língua “estrangeira”, isto é, ele é aprendido e usado apenas no contexto de sala de aula. Em casa, com a família e nas brincadeiras com os amigos, a criança comunica-se na sua língua materna (uma língua bantu). No meio urbano, para além da escola, há frequentemente situações em que o Português é usado pela família e pelos membros da comunidade em que a criança está inserida.
Isto implica que as escolas e os professores do ensino primário devem criar condições para a aquisição e desenvolvimento das competências de língua portuguesa pelos alunos.
Para que os alunos alcancem as competências desejadas, o professor deve preocupar-se com o progresso dos mesmos, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada um. Assim, a selecção criteriosa, a diversificação e a realização das actividades irão propiciar a aquisição e o desenvolvimento da oralidade.
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Reflexão 7 |
Para melhor entendimento sobre o tema que se vai tratar, usando a técnica Mesa redonda, com os seus colegas do grupo, discuta sobre as questões seguintes:
1.º Registem as vossas opiniões no papel gigante.
2.º Ao sinal do formador, mudem de mesa. Apreciem e escrevam as vossas ideias no trabalho dos vossos colegas. Este passo repete-se até que cada grupo volte à sua mesa.
3.º Apreciem, discutam as contribuições dos vossos colegas e organizem as ideias finais no vosso trabalho.
4.º Por fim (observando a equidade de género), apresentem a síntese em sessão plenária.
Para consubstanciar as ideias que nortearam o vosso debate, leia o texto a seguir sobre o tema acima mencionado.
A oralidade é a capacidade desenvolvida por homens e mulheres para estabelecer conceitos, ideias e termos com significados específicos que permitem uma interacção social. Ela permite a transmissão de conhecimentos, de geração em geração, sobre a origem do mundo, as Ciências da Natureza, a Astronomia e os factos históricos. Alguns ofícios existentes nas sociedades africanas estão relacionados com a tradição oral, com um conhecimento sagrado a ser revelado e transmitido às futuras gerações, como é o caso dos ferreiros, carpinteiros, tecelões, caçadores, oleiros, pescadores e agricultores. Os mestres que realizam estas actividades fazem-no ao mesmo tempo em que entoam cantos ou palavras ritmadas e gestos que representam o acto.
Os mais velhos, na comunidade e no meio familiar, a partir da sua experiência, transmitem, para além dos mitos, a moral e a ética, o papel do homem no Universo, a existência do mundo dos vivos e dos mortos.
De acordo com a teoria histórico-cultural de Vygotski (2001), o desenvolvimento do ser humano ocorre por meio de relações humanas. Ao nascer, a criança atribuirá ligações associativas mediante o contexto social em que está inserida. Com isso, a fala é o meio mais fácil para se obter uma comunicação compreensiva com os adultos.
Durante os três primeiros anos de vida, a criança passa por várias transformações significativas (Silva, 2010). Nesse período, ela apropria-se dos conhecimentos como a variedade de objectos, ampliação do vocabulário por meio da linguagem oral e observa as regras rudimentares de comportamentos sociais. As regras de acções e comunicações vão surgindo progressivamente, principalmente na escola. Dessa forma, a criança coloca em prática as suas produções verbais (Oliveira, 2007). Neste aspecto, o professor assume o papel de mediador, apoiando as crianças na aprendizagem de um novo conhecimento.
A linguagem oral dá aos alunos a base para o desenvolvimento da aprendizagem. Ao ouvirem outras pessoas, as crianças ganham grande parte do seu vocabulário e estrutura das frases. Elas também aprendem o contexto em que as frases são usadas.
As aulas de oralidade não são apenas para os alunos que não “sabem” falar o Português. Elas têm lugar ao longo de todo o processo de ensino-aprendizagem e estão organizadas em duas fases: a oralidade inicial, e a oralidade não inicial.
A oralidade inicial é a fase de aquisição do vocabulário básico que vai auxiliar o aluno na descodificação e produção de mensagens simples na língua veicular do ensino-aprendizagem. Esta fase apresenta uma etapa apenas, cujo nome coincide com o da fase. Nesta etapa, o professor tem a missão levar os alunos a aprender as primeiras palavras da língua. O vocabulário adquirido nesta etapa vai permitir a comunicação nas etapas subsequentes. A duração desta etapa varia de acordo com o nível do domínio da língua pelos alunos, podendo ser curta ou não. O professor não deve passar para a etapa seguinte sem que os seus alunos tenham bases sólidas para compreender e realizar tarefas mais complexas.
A oralidade não inicial é a fase em que os conhecimentos adquiridos na fase anterior são usados para motivar e apoiar a aprendizagem da leitura e da escrita e, ainda, para o desenvolvimento da compreensão e expressão orais. Esta fase é composta por quatro etapas, nomeadamente:
1.ª Etapa: Oralidade na iniciação da leitura e da escrita – é a etapa em que os alunos fazem a interligação da oralidade e da escrita, isto é, os alunos começam a registar por escrito o que já sabem dizer oralmente.
2.ª Etapa: Oralidade na consolidação da leitura e da escrita – nesta etapa os alunos trabalham a oralidade ao serviço da consolidação da leitura e da escrita.
3.ª Etapa: Oralidade no desenvolvimento da leitura e da escrita – nesta etapa os alunos trabalham a oralidade ao serviço do desenvolvimento da leitura e da escrita.
4.ª Etapa: Oralidade pela oralidade – nesta etapa trabalha-se a oralidade para que o aluno adquira capacidade crescente de compreensão e expressão orais.
Neste módulo, apresenta-se apenas a oralidade inicial e a oralidade pela oralidade. As restantes serão abordadas no módulo seguinte – Metodologias do ensino-aprendizagem da leitura e da escrita.
Nota: O conteúdo deste vídeo contém o mesmo conteúdo do texto do Manual