Aula 2 | Métodos ou Abordagens de Ensino de Línguas
Métodos ou Abordagens de Ensino de Línguas
A proficiência numa língua (saber: ouvir, falar, ler e escrever) é determinante para o desenvolvimento individual e colectivo. Dominar as destrezas linguísticas ajuda o indivíduo a ser autónomo, a superar barreiras sociais, culturais, económicas, políticas. Neste sentido, torna-se imprescindível encontrar procedimentos que encorajam o desenvolvimento destas habilidades por meio do ensino-aprendizagem. Aí surgem os denominados métodos de ensino de línguas, que, tomados no seu sentido mais inclusivo, são tanto o conjunto de actividades a serem executadas em aula, como as crenças/teorias ou conceitos plausíveis que secundam essas actividades.
Em Moçambique, o histórico de ensino-aprendizagem de línguas, como é o caso da língua portuguesa, enfatiza o ensino da gramática. Nesta aula, vai aprender e reflectir pedagogicamente sobre as diferentes abordagens de ensino de línguas moçambicanas para além da gramática.
- Gramática
- Preocupa-se com a estrutura gramatical da língua e, tradicionalmente, não permitia que ela fosse recriada. A aprendizagem da língua é rigorosa, obedecendo fielmente à sua estrutura. Por exemplo, é preocupação desta abordagem o domínio das estruturas sintácticas, da morfologia da língua, pelo que se trabalha ao pormenor a concordância verbal, os modos verbais, etc.
- Leitura
- É um método que privilegia a leitura para a aprendizagem da língua, tendo como base a linguagem oral, visual (imagens ou gráficos), etc. Todavia, a leitura textual depende do conhecimento específico dos sons da linguagem, bem como do reconhecimento do alfabeto e da compreensão do que é uma palavra na língua-alvo. No contexto das línguas moçambicanas, a leitura é de grande valia na medida em que contribui para a identificação e reconhecimento de fronteiras entre palavras, solidifica o reconhecimento do alfabeto da língua e sua comparação com o de outras línguas em contacto, particularmente o do Português.
- Método directo
- É caracterizado pelo uso da língua-alvo como meio para a instrução e comunicação em sala de aula. Os aprendentes devem aprender e pensar na língua-alvo. Este método obriga o aprendente a dedicar-se mais ao vocabulário da língua alvo que lhe permitirá construir a habilidade de comunicação organizada.
- Método funcional
- Caracteriza-se pela valorização daquilo que se faz por meio da língua (comunicar) e não a forma da língua, tendo como foco principal o uso de linguagem apropriada, adequada à situação em que ocorre o acto de fala e ao papel desempenhado pelos participantes.
- Comunicativo
- É uma das abordagens mais recriadas no contexto de ensino de línguas. Ela dá ênfase ao uso da língua, coloca o aluno no centro das aprendizagens e concebe as actividades como tarefas autênticas do uso dessa língua.
Estas abordagens, mesmo que não tenham sido detalhadas, traduzem o que se deve tomar em consideração no ensino-aprendizagem de uma língua primeira. Trabalhar a gramática, aperfeiçoar a leitura, considerar a função comunicativa da língua e sua adequação à situação comunicativa, assim como colocar no centro da aprendizagem o aluno constituem condições centrais para o desenvolvimento sólido e integral das habilidades de língua. Daí que, ao planificar sua aula, o professor tem que ter em conta os princípios defendidos nestas abordagens, assim como algumas práticas e crenças de sala de aula que influenciam estas abordagens (práticas linguísticas, psicolinguísticas, pedagógicas, sociolinguísticas), das quais se destacam as seguintes:
- O aluno é o sujeito da aprendizagem – todo o processo de aprendizagem tem como centro o aluno. É o professor que organiza o ensino, mas é o aluno que aprende, por isso cabe ao professor mediar a aprendizagem.
- A língua de ensino é objecto de estudo e meio para adquirir e/ou desenvolver competência comunicativa. É comunicando que os alunos aprendem e desenvolvem a língua.
- A língua é utilizada como meio de aprendizagem das outras áreas do currículo – a língua como meio de aprendizagem curricular atribui maiores responsabilidades ao professor de língua, mas também aos professores de outras disciplinas, que devem assumir o papel de monitores do uso da língua. Isto quer dizer que não é apenas o professor de língua que deve trabalhar questões de língua, como também os outros.
- Conhecer uma língua deve concorrer para o desenvolvimento de competências transversais autónomas, como, por exemplo, ser capaz de consultar um dicionário, realizar estudos e/ou pesquisas.
- Considerar que o erro faz parte da aprendizagem – sabendo que a aprendizagem é um processo, o professor, com o papel de mediador das aprendizagens, deve saber classificar o erro”, isto é, saber identificar, explicar (a razão desse erro) e agir sobre o mesmo (o que fazer para que o erro seja superado).
- Privilegiar a compreensão activa – se o aluno tem a possibilidade de controlar melhor o seu processo de compreensão, sentir-se-á mais seguro e autónomo na sua aprendizagem. A compreensão activa é a chave para a aprendizagem da língua, pelo que o professor deve privilegiá-la em todo o momento de aula de língua.
- Trabalhar a oralidade, a escrita e a compreensão – nas aulas de línguas, o professor deve ter o mesmo empenho e interesse ao trabalhar com a oralidade, com a escrita e com a compreensão. Uma boa compreensão e desempenho oral é um prenúncio de um bom desempenho na componente escrita.
- Saberes dos alunos e motivação – o professor tem que saber que os alunos não são simplesmente consumidores, eles têm um conhecimento prévio. Então, deve valorizar esse conhecimento, que é uma forma de mantê-los motivados para a aprendizagem.
Não menos importante é a relação entre os princípios básicos para o ensino de línguas e a avaliação desta mesma língua. Assim, a avaliação deve basear-se nos princípios de ensino de língua, aparecendo logo desde o início da planificação, contemplando todos os conteúdos e objectivos arrolados. Deste modo, a avaliação deve, entre outros aspectos:
- Apresentar tarefas e definição de objectivos – o professor, com base na prévia análise de necessidades, interesses e motivações dos alunos, deve apresentar os conteúdos de aprendizagem assim como os objectivos definidos e não apenas a obrigação de seguir as listas dos programas.
- Contemplar actividades de produção convergente e divergente – exercícios guiados de aplicação, em que os alunos usam e aplicam o que aprenderam sob orientação do professor, e exercícios de aplicação em situações diferentes, em que o aluno é convidado a aplicar, de forma criativa e autónoma, todo o saber da língua que já possui.
Os princípios gerais sobre a abordagem de ensino de línguas levam-nos a constatar que a aprendizagem de uma língua é um processo activo que começa na nascença e continua ao longo da vida. Assim, é importante que um professor de língua seja um indivíduo falante dessa língua, conhecedor e impulsionador da cultura desta, pois não há língua sem cultura e vice-versa.
Em termos psicopedagógicos, as crianças que aprendem na sua língua primeira desenvolvem melhor as habilidades mentais e intelectuais, são capazes de descrever estados emocionais e cognitivos, o que lhes permite construir relacionamentos que lhes possibilitarão aprender melhor uma língua segunda. A aprendizagem afectiva, cooperativa, cognitiva e motivacional são ferramentas indispensáveis para o aperfeiçoamento das habilidades de ouvir, falar, ler e escrever em uma língua primeira.
Ensino da Língua primeira/materna em contexto escolar
O ensino da língua primeira/materna constitui, em si, uma actividade complexa e cheia de contradições. No início da escolarização, o aluno já possui um conhecimento substancial da língua, adquirido no meio natural. À entrada na escola, o aluno já conhece os sons da sua língua e respectivas regras de combinação, as regras de produção e de formação de palavras e a generalidade dos padrões de formação de frases simples. Nesta perspectiva, há um grande desafio para o professor que deseja construir um saber novo para uma criança que já domina a língua.
O ensino da língua primeira não deve ser tomado no seu sentido cristalizado de dar, passar, transmitir conhecimentos, mas como forma de construir experiências válidas, afirmadoras de auto-estima, envolventes e motivadoras no sentido de apoiar a aprendizagem (já desencadeada num esforço dos próprios alunos) de aspectos da língua ou a expansão dos recursos linguísticos dos alunos.
Lidos os apontamentos fornecidos, você está agora familiarizado com as abordagens de ensino de línguas. Nas actividades 3 e 4, irá reflectir sobre a sua aplicabilidade no ensino
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Actividade 3 |
Técnica didáctica |
Interacção em grupos - Tomar uma posição. |
Conteúdo |
Métodos de ensino de línguas. |
Habilidades a desenvolver no(a) formando(a): |
- Aperfeiçoa a busca e selecção de informação para fins estudantis;;
- Reflecte sobre os métodos de ensino de línguas, particularmente o ensino de línguas moçambicanas;
- Desenvolve a habilidade oral e argumentativa acerca de um determinado assunto.
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- Formem grupos de 4 formandos, no máximo. Lembrem-se de respeitar o princípio de equidade de género;
- Cada grupo deve escolher uma formanda como porta-voz e um formando como secretário;
- O secretário regista os consensos do grupo e a porta-voz terá a função de anunciar os consensos à turma (apresentar o trabalho);
- Cada grupo escolhe um folheto com um dos métodos/abordagens de ensino de línguas apresentados anteriormente;
- O grupo faz uma breve busca (consulta bibliográfica) em relação ao que se argumenta sobre como ensinar a língua no método escolhido;
- O grupo deve aliar o método aos princípios práticos da sala de aula e à avaliação;
- O grupo discute a validade (importância) desse método para o ensino de uma língua moçambicana/L1;
- Cada grupo apresenta o seu posicionamento à turma, argumentando ao máximo sobre os pontos fortes e fracos do método escolhido;
- Ganha o grupo que conseguir arrecadar mais apoiantes para si, através dos seus argumentos.
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Actividade 4 |
Técnica didáctica |
Interacção em grupo – Reflexão. |
Conteúdo |
Abordagens de ensino de línguas. |
Habilidades a desenvolver no(a) formando(a): |
- Reflecte sobre a praticabilidade dos diferentes métodos de ensino de línguas.
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Será que existe uma só abordagem que deve ser sempre adoptada para o ensino de línguas? Vamos reflectir!
Houve uma participação activa dos membros do grupo nesta actividade? A participação das formandas promoveu a equidade de género? Conseguiram argumentos suficientemente convincentes para angariar mais apoiantes? Conseguiram descobrir qual das abordagens de ensino de línguas é a melhor de todas? Se conseguiram, estão de parabéns!
Definição de conceitos básicos no contexto de ensino de línguas
Para um bom entendimento de qualquer assunto, é necessário que o problematizemos e reflictamos sobre o mesmo. Neste subponto, abordaremos os conceitos de “língua”, “língua primeira”, “língua segunda”, “língua estrangeira” e língua oficial”.
Certamente, estes conceitos não constituem novidade para si, pelo que antes de ler os apontamentos fornecidos ou de proceder a qualquer consulta bibliográfica, realize a actividade que se segue, que o irá ajudar a mobilizar os conhecimentos que tem sobre a matéria.
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Actividade 5 |
Técnica didáctica |
Interacção aos pares - vire e fale. |
Conteúdo |
Exercícios de auto-avaliação. |
Habilidades a desenvolver no(a) formando(a): |
- Formula conceitos sobre a língua usando suas experiências;;
- Aprimora a expressão oral;
- Cultiva a capacidade de síntese de ideias.
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Agora confronte as ideias construídas com as definições propostas a seguir, procurando estabelecer as diferenças entre elas, preparando-se para realizar a actividade 6.
- Língua Primeira (L1)
- É a língua que se usa como primeiro instrumento de comunicação após a nascença em relação a outras línguas que se vai aprendendo ao longo da vida. Em Moçambique e em outros países africanos, a língua primeira ou materna da maioria é uma língua africana.
- Língua Segunda (L2)
- É a língua que um indivíduo aprende depois de adquirir uma L1. Em Moçambique, a maior parte das pessoas fala o Português como L2. No geral, esta língua aprende-se de duas maneiras: (i) informalmente – em casa ou na comunidade (zonas urbanas) e (ii) formalmente – geralmente na escola e noutros contextos formais. A fraca cobertura ou pouca oferta, em ambos os casos, faz com que esta língua, apesar de ser língua oficial do país, não seja dominada pela maioria dos moçambicanos.
- Língua Estrangeira
- É a língua com a qual o aprendente tem contacto apenas no contexto de aprendizagem.
- Língua Oficial
- É a língua usada nas instituições formais do governo, como administração, educação, etc. Em Moçambique, a língua oficial é a língua portuguesa, precisamente, por desempenhar estas funções.
- Competência linguística
- É um termo amplo e geral, que se usa particularmente para descrever uma representação mental, interna da língua, é algo mais latente do que manifesto. Tal competência refere-se, normalmente, ao sistema subjacente inferido da actuação linguística.
- Competência comunicativa
- É a capacidade de o sujeito circular na língua-alvo, de modo adequado/apropriado, de acordo com os diversos contextos de comunicação humana.
- Habilidades linguísticas
- São componentes altamente específicas, observáveis e claramente definidas, nomeadamente ouvir, falar, ler e escrever.
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Actividade 6 |
Técnica didáctica |
Interacção em grupo – Reflexão. |
Conteúdo |
Conceitos básicos no âmbito de ensino de línguas. |
Habilidades a desenvolver no(a) formando(a): |
- Reflecte sobre a importância de dominar os conceitos básicos no âmbito de ensino de línguas.
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- Depois de conhecerem os princípios básicos no contexto de ensino de línguas, reflictam sobre a seguinte questão: Até que ponto o conhecimento dos conceitos acima é importante para a planificação e modelação de aulas de ensino de uma língua?
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Nota: O conteúdo deste vídeo contém o mesmo conteúdo do texto do Manual